quinta-feira, 10 de abril de 2014

Prurigo nodular de Hyde

Prurigo nodular de Hyde – caso exuberante

Natália Solon Nery, Pedro do Vale Machado, Rachel Marina Sá Rosado, Fernanda Guedes Lavorato, Danielle Mann, Daniel Lago Obadia

RELATO DO CASO

Paciente feminina, 65 anos, melanodérmica, do lar, natural e procedente do Rio de Janeiro, previamente hígida, queixava-se de surgimento progressivo e cumulativo de lesões pápulo-pruriginosas nos membros superiores e inferiores há 5 anos.
Ao exame, notam-se múltiplas lesões tuberosas de consistência endurecida, normocrômicas, liquenificadas, algumas com escoriação central, variando de 0,8 a 1,5cm de diâmetro, localizadas principalmente nos antebraços e pernas.
Radiografia de tórax, ultrassonografia de abdome, hormônios tireoidianos, hemograma, proteínas totais e frações, creatinina, ureia, bilirrubinas, lipidograma, glicose de  jejum e pós-prandial e  dosagem de antiestreptolisina foram normais.
As sorologias para hepatites B e C e HIV foram não reagentes  e  o FAN foi negativo.
Exame histopatológico evidenciou acantose irregular, paraceratose, hiperceratose, verticalização das fibras colágenas e infiltrado inflamatório perivascular na derme superior.
Todas as modalidades terapêuticas propostas (doxepina, pasta de Lassar, corticoides tópicos, emolientes, anti-histamínicos) foram recusadas pela paciente. Encaminhamos para acompanhamento psiquiátrico e psicológico sem sucesso.

DISCUSSÃO

O prurigo nodular de Hyde é uma doença crônica, de etiologia desconhecida, caracterizada por nódulos extremamente pruriginosos. Acomete ambos os sexos, entre 20-60 anos de idade, sendo mais comum em mulheres de meia idade, embora casos em crianças já tenham sido descritos.
As lesões se caracterizam por nódulos pruriginosos, endurecidos, ceratósicos, simétricos, variando de 1-3cm de diâmetro, eventualmente escoriados, predominando nas faces extensoras das extremidades.
Aumento de substância P e neurohiperplasia já foram demonstrados nas lesões do prurigo nodular, explicando o intenso prurido. Atopia foi descrita em 65-80% dos casos. Distúrbios neuropsiquiátricos também contribuem para a manutenção do prurigo, o que nos fez encaminhar a paciente para avaliação com especialista. Calor, frio, irradiação ultravioleta, picadas de insetos e conta-tantes podem agravar o quadro. Parasitoses intestinais e infecções das vias aéreas superiores podem atuar como superantígenos, perpetuando o prurido. Neoplasias sólidas, doenças mielodisplásicas, hipo e hipertireoidismo, diabetes mellitus, hipertensão, obesidade, úlcera péptica, alcoolismo, sarcoidose, psoríase, doenças hepáticas ou de vias biliares, foliculite, doenças disabsortivas e infecção pelo HIV já foram descritos como possíveis causas de prurigo nodular.
Achados histopatológicos incluem hiperplasia pseudo-epiteliomatosa, acantose, hiperceratose e paraceratose, com edema na epiderme e na derme superior, alem de infiltrado inflamatório perivascular.
Os principais diagnósticos diferencias incluem líquen simples crônico e líquen plano hipertrófico.
A maioria dos casos de prurigo nodular são resistentes à terapêutica. Regressão espontânea é rara e recaídas são comuns. Casos extensos devem ser tratados com medicações sistêmicas e terapias tópicas auxiliam no controle do prurido. Emolientes, antipruriginosos e corticoides tópico sob oclusão, associados ou não com agentes ceratolíticos, podem ser utilizados. Corticoides intralesionais são mais efetivos. Anti-histamínicos devem ser prescritos, dando preferência para aqueles com efeitos sedativos. Talidomida, fototerapia e cri-oterapia também são possíveis modalidades terapêuticas. Imunossupressores e capsaiscina tópica tem sido utilizados, com respostas variáveis.

REFERÊNCIAS

1. Accioly-Filho JW, Nogueira A, Ramos-e-Silva M. Purigo nodularis of Hyde: an update. J Eur Acad (2000) 14:75-82.
2. Johansson O, Liang Y, Emtestam L. Increased nerve growth factor and tyrosine kinase A-like immunoreactivities in prurigo nodulares skin – an exploration of the cause of neurohyperplasia. Arch Dermatol Res (2002) 293:614-619.
3. Katotomichelaskis M, Balatsouras DG, Bassioukas K, Kontogiannis N, Simopoulos K, Danielides V. Recurrent prurigo nodularis related to infected tonsilitis: a case report. J Med Case Rep (2008) 2:243-246.
4. Wallengren J. Prurigo: diagnosis and management. Am J Clin Dermatol (2004) 5(2):85-96.
5. Wong E, MacDonald DM. Localizaed subepidermal fibrin deposition: a histopathologic feature of friction-induced cutaneous lesions. Clin Exp Dermatol (1982) 7:499-503.
Email para contato: natalianery@gmail.com


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